7.10.07

Poema

Bem vindos à Belíndia

Bem vindos à Belíndia
metrópole das elites
sertão dos coronéis
onde um sorriso tem preço
e um pão vale mais qu'ma vida
não se preocupem, caso ocorra um assalto -e irá-
estaremos seguros atrás de vidros blindados
e muralhas de indiferença
todos os mendigos são apenas atores para vossa diversão
é tudo apenas diversão!
não precisam alimentá-los, não sentem fome nem frio
mas se vossos filhos quiserem espancá-los...
à vontade

À sua direita o morro
habitat natural dos excluídos
parece um lugar ruim para morar, mas se o fosse
já teriam saído dali

E quando cansarem de ganhar dinheiro,
à esquerda fica nosso belo templo
repleto de lojas e artigos caros da moda,
esperamos que consigam preencher vosso vazio existencial

não, não, não
aqui não é Nova Iorque
mas melhoramos nossa imitação a cada dia que sobrevivemos
somos subnutridos, pobres e ignorantes
mas somos penta!

O sorriso

sorria

o sorriso é a expressão

mais interessante, humana
para alguns mera distração

para mim vários significados
tímidos por timidez
ou por felicidade, escrachados

cuidado leitor, o sorriso em servidão
serve tanto para a conquista
quanto serve à rendição

e sem querer ser chato
mas o sorriso tem também maus usos
sátira, sarcasmo e escárnio

de qualquer maneira é válido
basta que brote sincero
e não da vontade morta

mas como diz o ditado
os olhos, a janela da alma, pois bem
eu digo, o sorriso? a porta

é como uma explosão
que só cala-se com
o silêncio de um beijo


Olhos fixos na entrada

Olhos fixos na entrada
ela não virá hoje
eu sei
mais um dia que passará como os outros

olho pela janela
em direção ao caminho
nada, deserto
ela não virá hoje

sentado, derrotado
ouço o doce barulho de seus passos
na esperança cega de vê-la

viro-me para a porta
radiante ela entra!
hoje valerá a pena!

8.8.07

Poesia

Agora estou numa onda de poesias, por isso tem uma leva delas.

o bom cidadão

o bom cidadão tem uma familia
o bom cidadão tem um emprego
o mal cidadão faz greve

o bom cidadão verbas desvia
o mal cidadão reclama
,mas
o bom cidadão tem o imposto pago

o bom cidadão nao acredita em preconceito

o mal cidadão é à favor da paz
o bom cidadão tem uma arma em casa

eu você ele é morto pelo bom cidadão

o mal cidadão liberta
o bom cidadão é um assassino


eu sonhava uma noite, ou não
e assim que a vi, bela ninfa
senti levar embora meu coração
pela estrada que não finda

enquanto a sigo é que reparo
dona da pele mais macia
com um doce olhar me feria
quando a alcanço digo sem amparo

se és tão perfeita quanto a vejo,
ou são as lentes do amor
ou és o anjo que procuro em meus sonhos

se és a musa de Dante
me auxilia, me inspira
traz a mim os melhores versos


De manhã

Hoje o empresário acordou
teve seu café na cama
despediu-se da mulher e filhos
dirigiu o cadilac até sua empresa

o operário acordou cedo
tomou uma média na padaria
filho e mulher ainda estavam dormindo
pegou um ônibus para o trabalho

um mendigo não acordou
frio e fome o mataram
a noite passada
tudo bem, era só um mendigo

26.5.07

Comunicado à Sociedade (da Ocupação da Reitoria)

São Paulo, 21 de maio de 2007

Comunicado a Sociedade São Paulo, 21 de maio de 2007 Os estudantes da USP que ocupam a reitoria desde o dia 03/05, reunidos em plenária, decidiram vir a público prestar esclarecimentos com relação às informações veiculadas na imprensa sobre o movimento, assim como nossas resoluções sobre as reuniões propostas pela reitoria e a Polícia Militar.
Nosso movimento defende a educação pública contra os ataques do governador José Serra e a conivência das reitorias das Universidades Estaduais paulistas. É por isso que somos contra os decretos assinados pelo governador no início deste ano, que ferem não somente a autonomia de gestão financeira, mas principalmente comprometem o caráter reflexivo e crítico que deve caracterizar ensino, pesquisa e extensão, na medida em que privilegiam as ?pesquisas operacionais? - aquelas que favorecem o lucro privado em detrimento dos interesses da maioria da população. Exemplo claro disto é a alocação da FAPESP na Secretaria de Desenvolvimento, separada das Universidades. Reiteramos que estes decretos vieram agravar o processo de sucateamento da educação pública, já manifestado nos vetos ao aumento de verbas para as Universidades. Ocupamos a reitoria em protesto contra seu silêncio e omissão, para sermos escutados e abrirmos o debate com a sociedade.
Fomos acusados de ?vândalos? e ?violentos? por termos danificado uma porta. Violentos não seriam os governos que impedem a maioria da população de ter acesso à Universidade Pública, que é elitista e racista por responsabilidade dos mesmos que hoje nos criminalizam? Violentos não seriam os que têm punido juridicamente manifestações políticas, como esta ocupação? Violentos não seriam os que destroem a educação pública e reprimem os que querem defendê-la? Violenta não seria a polícia que reprime, dia a dia, a população pobre, negra, os trabalhadores e os movimentos sociais? Frente a toda essa violência, uma porta não é nada. José Serra nos chamou de ?mentirosos e desinformados? e declarou que a autonomia não foi ferida. É um ataque lamentável, como os que ele mesmo desfere contra o ensino público e que devem ser repudiados pela população. A respeito da gestão das verbas da Universidade, Pinotti em entrevista à Folha de S. Paulo declarou: ?Suponha que haja um remanejamento maluco. Cabe ao governador dizer não.? Isso fere claramente a autonomia, pois deixa a critério do governo o que é ?maluco?. E sabemos que ?maluco? para eles é investir na Universidade Pública, gratuita e de qualidade.
É falsa a afirmação de que somos contra a transparência das contas da Universidade. Defendemos a publicização de toda a movimentação financeira interna da Universidade, o que também deve incluir as contas das fundações de direito privado, que usurpam o dinheiro e a estrutura da Universidade Pública para beneficiar um punhado de grandes empresas privadas e a burocracia acadêmica. Porém, a mera prestação de contas é insuficiente. A USP já disponibiliza os dados de seus gastos para a toda a população na internet. O Siafem (Sistema Estadual de Controle e Registro de Gastos), ao contrário, não é aberto ao público (é necessária uma senha para acessá-lo, disponível apenas para o Judiciário e o Legislativo). O argumento da transparência é falso, trata-se de uma centralização das decisões e informações. O mesmo governo que se declara a favor da transparência não publicou a previsão e a arrecadação do ICMS dos meses de março e abril, argumento dado para a não definição do reajuste salarial dos servidores. E mais, queremos que o destino das verbas seja definido não somente por uma minoria de professores, como é hoje, mas democraticamente, pela comunidade universitária em diálogo com a população, para que não esteja de acordo somente com os interesses de uma minoria.
Combatemos a concepção que trata como ?privilégios? direitos sociais inalienáveis, como educação, saúde e previdência. O resultado deste processo é que direitos sociais que deveriam ser garantidos para todos são transformados em mercadoria que só alguns podem adquirir. É por isso que dizemos à população que o discurso do governo ?contra o elitismo da Universidade? é oportunista. Não somos nem ?privilegiados? nem ?corporativistas?. Defendemos a universidade dos ataques que vem sofrendo e lutamos para transformá-la, para que seja de fato pública, tanto em seu acesso e permanência à população que mais necessita, quanto no caráter do conhecimento nela produzido. É por isso que chamamos a sociedade para lutarmos juntos pela real democratização das Universidades Públicas.

Estão agendadas duas reuniões para hoje (21/05/2007): uma com a reitoria e outra chamada pelo Comandante da Tropa de Choque da Polícia Militar. Frente a isso, declaramos que:

1 ? Apoiados por professores, pela Assembléia de estudantes e de funcionários da USP, dentre outros segmentos da sociedade civil, diversas Universidades e movimentos sociais reiteramos nosso repúdio a qualquer punição, seja ela de caráter administrativo ou judicial, contra qualquer integrante do movimento de ocupação da reitoria da USP, sobre o qual recaia qualquer implicação processual em razão deste movimento político.

2 ? Com relação à reunião com a PM: o que está sendo proposto não se trata de uma negociação. A única negociação possível é com a reitoria. Defendemos a autonomia da Universidade e negociar com a PM seria um ataque a esta autonomia que estamos defendendo. Por isso, não participaremos da reunião e mandaremos apenas representantes jurídicos para entregar oficialmente este comunicado e defender nosso movimento e nossas reivindicações. É importante lembrar que reintegrações de posse com uso de força policial não ocorrem na USP desde os obscuros anos da ditadura militar, quando centenas de pessoas foram presas e torturadas por lutar pela democracia na Universidade e no país. Não vamos compactuar com uma intervenção que reinstitui práticas ditatoriais e, se houver uso da força policial, resistiremos.

3 ? Com relação à negociação com a reitoria e nossa pauta: sempre estivemos abertos à negociação, por isso aceitamos a reunião proposta para hoje, às 8h30. Esperamos que a reitoria avance no atendimento às nossas reivindicações, que não são somente moradia e autonomia como a imprensa tem veiculado. Temos uma pauta com 17 pontos, que segue em anexo. Esperamos que a reitoria avance com relação à proposta do dia 08/05, já rejeitada em Assembléia Geral do Estudantes da USP, que contou com mais de 2000 estudantes. Como nossas decisões são feitas democraticamente em fóruns de participação direta, a avaliação do resultado desta reunião será feita na próxima Assembléia Geral dos Estudantes da USP, a se realizar no dia 22 de maio, às 18h, em frente à reitoria.

4 ? Chamamos toda a população a participar das nossas atividades, pois nossa luta é em defesa da educação pública. Haverá um ato público no dia de hoje, às 14h, em frente à reitoria, contra a repressão policial e em defesa da educação pública, para o qual chamamos todos os trabalhadores, estudantes, intelectuais, parlamentares, sindicatos, organizações políticas e movimentos sociais, para defendermos a legitimidade da nossa luta. Será realizada no dia 22/05 a Assembléia Geral dos Estudantes da USP. E no dia 23/05, quando nossa greve se fortalecerá com a entrada de outros setores das universidades, nos somaremos ao Dia Nacional de Lutas em defesa dos direitos sociais, com um ato no MASP (Av. Paulista), às 14h.

Contamos com o apoio dos que se o opõem à repressão e defendem uma educação pública, gratuita e de qualidade para todos.
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