27.6.08

Uma breve história do futuro

Mais com carácter experimental, essa história narra o que poderia acontecer após a tradução de um poema num futuro em que tudo é artificial.

Clique para baixar

Ou para quem não quiser, basta clicar nas páginas e esperá-las abrirem:


23.6.08

Tirinha #10


(Clique para ampliar)

22.6.08

Tirinha #9

Mais uma tira.

21.6.08

Tirinha #8

Agora numa linha politizada.

18.6.08

Um desenho

Sem tempo para fazer uma postagem melhor, vai esse coração mesmo.



13.6.08

O Sr. F

Uma história do Sr. F, personagem criado originalmente por Vladimir Galli, do blog do Sr. F, escrita excepcionalmente por Gustavo Ganso.

Ao som de “Heart Shapped Box", do Nirvana, para um tom furioso.
E "Homem Primata", dos Titãs, para o fundo crítico.


"Homem primata, capitalismo selvagem, oho-o!"


“A vida não lhe dará presentes,

se você quer a vida roube-a.”


Sr. F e o selvagem mundo empresarial

O garoto estava sentado no sofá, olhava para o vazio, o controle remoto na mão e a televisão desligada. Foi essa a visão do Sr. F ao entrar na sala. Precisou chamar duas vezes para tirar o garoto do transe.

-O que? É você Sr. F.

-Sua mãe disse que você estaria aqui.

-Estou vendo à tv.

-Eu percebi. – E Sr. F olha para a televisão, o olhar do garoto o segue e ao perceber o aparelho desligado disfarça.

-Ah, é que eu já tinha desligado, agorinha pouco.

-Então você não foi aceito no emprego...

-É não me quiseram.

-... – Sr. F. queria que o garoto continuasse.

-Não entendo, eu sempre fui inteligente, o melhor aluno da escola.

-Você precisa entender que ninguém tem a obrigação de te contratar porque você é bonzinho e os professores falavam bem de você. O tempo de estudante e bajulador dos professores já passou.

-Eu não era bajulador!

-De qualquer forma eles gostavam de você e de certo faziam vista grossa aos seus erros.

-É, talvez... O que tem a ver?

-Aquele pessoal recebia do governo para te ensinar. Em um emprego, pagam para você produzir e qualquer erro seu serve de motivo pra ser descontado do salário o até pior, ser despedido. Como adulto você precisa agregar novas qualidades, pretendia impressionar o chefe dizendo qual a velocidade da luz?

-Se eu tivesse a chanc—

-Nada, você precisa mostrar serviço. Escuta, seria muito bom se fôssemos todos bons e desligados do dinheiro, mas não é assim, a vida não vai mais arredondar sua nota, se bobear, vai até tirá-la de você, então aprenda a conseguir as coisas sem esperar a ajuda dos outros.

-...

-Agora chega de papo, esse cheiro de carne assada vindo da cozinha me deixou com água na boca. Vamos lá.

Sr. F e o garoto foram almoçar, o garoto entendeu os conselhos do Sr. F. e se empenhou como nunca. Foi dispensado por várias tentativas seguintes de conseguir emprego. Nem todos vão conseguir, por mais que se esforcem.




11.6.08

Subúrbio: A Fuga

História baseada em um causo que aconteceu com um amigo. Claro que eu dei uma enfeitada e dramatizada, mas afinal, é mais uma história do universo do Subúrbio, da cidade de São Jorge.

Versão CBR para abrir com o programa Comic Display

Mas caso alguém prefira, eis todas as páginas aqui mesmo, lembrando que basta clicá-las para ampliar.


8.6.08

Finalmente, o final


Como ontem eu não postei nada, deixo aqui a parte três mais o término da história.


Para ler toda a história acesse aqui.

III



Ótimo, foi o que ele disse até começar a sentir um sabor amargo -a metamorfose não é fácil para
ninguém- de incisivo sobre mim, seu olhar tornou-se clemente, mas eu ansiava por reverência. Preparei a sua transformação ali mesmo na sala, tinha prometido a mim mesma que tomaria cuidado, mas aquela era uma ocasião especial.

Com os móveis deslocados para dar espaço ao corpo desnudo no meio da sala, ela começou seu ritual. De uma bolsa de couro de crocodilo, tirou uma infinidade de bisturis, pinças e colheres. Começou pelos globos oculares, retirados com o auxílio de uma estranha colher, os quais guardou num pote de vidro. E foi assim com os lábios, língua, mãos e genitais, todos guardados em potes de vidro, levados até um baú no quarto dela.

Esse será diferente, não darei o banho purificante de água sanitária, até porque acabou. Ao invés de enfurnado em meu armário, ficará aqui na sala, poderemos conversar durante o café da manhã, almoço e jantar! Não é?
-Ficarei com você pra sempre.
-Todos nós ficaremos.
-Não, só eu, os outros no armário terão de ir embora.
-Não! Eles são meus!
-Então eu é que vou sair e contar pra todos, o quanto você é infantil e que você fez tudo isso porque você é má, por que não passa de uma garotinha mimada!
-Não tio, por favor, não.
-Então seja uma boa garota, fique quietinha e não conte nada para os seus pais...
-Agora eu sou adulta, você não manda mais em mim!
E tomada pela fúria, pulou sobre o cadáver e bateu, chutou, cuspiu nele. Recuperada -ou não- se
arrastou até uma parede e lamentou-se de um modo incompreensível.

E foi nesse meu momento de distração que a menina surgiu não sei de onde, estava parada na minha frente:
-Você tem que parar com isso.
-Não até que eu tenha salvo a humanidade.
-Salvar? Olha o que você está fazendo conosco! O que fez com eles...
-Sim, olha para eles agora, transcenderam a condição de homens e não podem mais me machucar.
-Você tem que parar com isso!
-Senão?
-Senão...
-Eu acabei de derrotar nosso tio, não é uma garotinha infantil, como você é, que vai me impedir.
-Se eu sou só uma garotinha o que me diz disso?
E a pequena garotinha pegou uma faca e colocou ameaçadoramente perto do pescoço. Como mágica a mulher recuou para uma posição fetal, chorando, clamando para que a garotinha não terminasse com tudo.
......................


Epílogo

E foi assim durante alguns anos, na sua busca -e missão- encontrou mais alguns desgraçados, mas nenhum deles passou pela suas exigências, fechou-se em um ciclo de corpos, solidão, busca,
desapontamento, morte, corpos.

A presença da garotinha era cada vez mais constante, e sua consciência foi cedendo o espaço da frieza para os sentimentos, e ela tornou-se ainda mais instável, deixando de se preocupar com a técnica ou com a ordem de seu ritual. E se é que um dia se preocupou com as conseqüências, também parou de se preocupar.

Até que um dia a água sanitária não foi suficinete para o cheiro da solidão. Os vizinhos chamaram um chaveiro, e não foi preciso muito para dar início a uma complexa reação em cadeia, que incluiu policiais, legistas, parentes inconformados e até um longo julgamento.
Mas ela não voltaria para seu apartamento aquele dia.
Ela terminou o que a garotinha tinha começado.
A solidão também foi demais para ela.

FIM

6.6.08

A continuação II


Para ler toda a história acesse aqui.

II

O interfone toca, ela levanta correndo da cama para atender, sim, o seu namorado chegou, ela reza todos os dias pedindo que ele não seja como os outros.
-Sim, ele pode subir sim.
Fechando o closet olha uma última vez para os dois corpos mutilados que exalam um forte cheiro de água sanitária e cadaverina. A ausência dos lábios e olhos lhes dão um aspecto confuso e ao mesmo tempo sorridente. Parecem contemplar a sua algoz.

A campainha. Espero que ele tenha trazido um presente... E vou correndo atender a porta.

E passando pelo grande espelho da sala, tem mais uma chance de retocar o cabelo e garantir uma boa aparência, de lado as fendas do vestido vermelho deixam aparecer uma tatuagem que se estende pelas costas num padrão de escamas na cor preta. Nota alguns pingos vermelhos no espelho que devem ter escapado à sua limpeza.

Atendo a porta, ele sorri com um ramalhete de rosas, nos cumprimentamos sutilmente, ele é diferente, eu sei, ele não tenta nada sujo, sua mente é pura e pensa por ela mesma. Convido-o para entrar e o levo à mesa previamente preparada, um jantar romântico, mas que ele não tente nada, pois além do frango marroquino no forno, um pudim de estricnina espera na geladeira por uma brincadeira sem graça. Abro uma garrafa de vinho, só tomando o cuidado de não beber em demasia.
-O frango estava ótimo! Surpreendente que você seja uma cozinheira.
-Por quê?
-Achei que sua vida fosse só trabalho.
Ele trabalha comigo no escritório, num cargo inferior ao meu...e essa opinião não deve ser apenas dele.
-E agora, o que a minha gerente preparou pra depois?
Minha? O que é isso agora? Ele trabalha o dia inteiro num cubículo com trabalho burocrático e é melhor que a gerente, é superior?
-Sua... Gerente?
-Ah meu amor, eu sei que você deve gostar dessas coisas de dominação e tudo mais...
-Você quer saber o que vem depois?
-Quero!
-Você gosta de pudim?
................


Só um adendo II

Ontem eu vi uma notícia que me impressionou, a polícia libertou vários trabalhadores que viviam em regime de semi-escravidão: sem carteira assinada, sem salário fixo, condições de trabalho degradante. Adivinhe o que aconteceu ao dono da fazenda? Ele foi preso? Foi obrigado a pagar indenização aos trabalhadores? Não, ele vai pagar uma multa para o governo. E de onde vem o dinheiro? Dos trabalhadores usurpados. Mais um dinheiro que o povo não verá nem a cor.

4.6.08

Carnaval de quadrinhos das quartas #17 Artistas nacionais

Emir Lima Ribeiro nasceu em João Pessoa, em 7 de abril de 1959 e é um ótimo exemplo de cartunista brasileiro. Começou com os quadrinhos ainda cedo, 7-8 anos, fazendo histórias para amigos e familiares. Em 1973, com apenas 14 anos, já tinha criado sua obra prima, a heróina Velta, publicada no jornal mural O Comunicador, do Colégio Estadual de Jaguaribe.

Já publicava em jornais estaduais no ano de 75. Em 1978 passou a editar revistas por conta própria e colocá-las nas bancas de três estados nordestinos. Editou cerca de quinze revistas independentes, sendo o mais recente o álbum 25 anos de Velta (1998).

No decorrer da carreira, participou de várias exposições em João Pessoa, PB, em outros estados como São Paulo e Rio de Janeiro, e na França. Entre 1985 e 1991, publicou diversos trabalhos da linha erótica e terror em editoras de São Paulo, como Press/Maciota, Nova Sampa e ICEA.

Em 1993 começou a fazer trabalhos para editoras dos Estados Unidos em personagens conhecidos como O Incrível Hulk e Os Vingadores, ou pouco conhecidos como Glory, Avengelyne, Prophet e Os Protetores.

Publicou história colorida de Velta na revista Metal Pesado #6 e, ultimamente, teve uma revista formatinho com Velta, lançada pela editora Escala (2002), o álbum Velta contra o Devorador (Editora Opera Graphica, 2002), o livro História da Paraíba em Quadrinhos (independente, 2003) e o outro álbum 30 anos de Velta (Opera Graphica, 2003).

Criou diversos personagens, entre eles Velta, o índio Itabira, a andróide Nova e O Homem de Preto.

Aqui um trecho da entrevista dada ao Farrazine #5

Farrazine- O que você acha do mercado brasileiro para HQs nacionais? Melhorou? Piorou em relação ao passado?
Emir- Piorou e muito. Antes havia editoras menores publicando material nacional, ou então jornais publicando tiras diárias e páginas semanais. Hoje, não há nada disso, e as dificuldades encontradas para se publicar são bem maiores. Enfim, o quadro é negro e o mercado de
quadrinhos brasileiro é inexistente.

Site oficial: http://www.emirribeiro.com.br/



Fizeram parte desta edição do Carnaval de quadrinhos das quartas:

Toca do Calango - Edgar Vasques
  • NewsErrado - Caco Galhardo
  • Blog do Hiroshi - Maurício de Sousa
  • Blog do Gusta - Emir Ribeiro
  • Quadrideko - Watson Portela
  • 3.6.08

    A continuação

    A continuação do texto Carmem: fragmentos de uma mente perturbada

    Para ler toda a história acesse aqui.


    I


    Duas horas após o término da metamorfose, continuo a contemplar seu corpo. Livre dos grilhões do instinto. Seu olhar antes atrevido, agora é muito mais comportado, seus olhos eram bonitos, mas resisti e descartei-os assim mesmo, pro lixo, bem como o fora a minha infância, quando tinha apenas meus sete anos e nos mudamos para a cidade. Meu pai disse que o interior estava atrasando a família e que na cidade os tios tinham se estabelecido bem. E de certa forma, se comparados aos casebres do campo, os barracos na periferia não eram tão ruins... (todos os conceitos e concepções que tinha sobre humanos e a vida em sociedade, se provariam errados depois desta mudança. Que ingenuidade a minha pensar que todos os homens se relacionavam como na minha cidadezinha!).

    Na última semana é que realizei que as mãos também inebriam e não deixam que a mente pense com clareza. Por isso tomei a liberdade de extrai-las, tão úteis, também tão sujas. Ninguém acreditou em mim: "seu tio trabalha o dia inteiro, nos ajuda muito e você inventa uma coisa horrível dessas!". Ele era da minha família! Ele deveria me proteger! Mas foi bom, não trouxe apenas seqüelas, trouxe um propósito de vida: curar. Hoje a fragilidade de criança já não tem espaço em minha mente, desde o fatídico dia, meu instinto fechou-se num casulo pra renascer mais poderoso do que nunca, rastejando como que uma larva, sendo abusada pela escória toda, mas depois, quando transformada, ninguém é páreo para a muçurana, a devoradora de cobras, poderosa, vai à forra com as outras cobras, agressoras de outrora, brinquedos hoje.

    Melhorei bastante para uma segunda vez. Da primeira vez não tinha nem planejado como iniciar o processo, ele não parava de se mexer, nem de tentar escapar, improvisei com um vaso em sua cabeça e descobri como quatro litros podem ser muita coisa quando se trata de sangue pelo tapete. Quase entrei em pânico, usei o que tinha em casa para transformá-lo, facas, colheres, qualquer coisa que parecesse ter serventia. Hoje sou muito mais técnica, precisão quase cirúrgica, fabricando os instrumentos de que necessitasse. Ah! O êxtase de mais um trabalho completo. Sua medíocre condição humana não é mais problema, ele pode descansar agora, seu instinto sujo, não vai mais atrapalhar seus pensamentos. Eu gostava daquele tapete na sala, agora só me serve no quarto, onde o vermelho velho combina mais com o das paredes. Ainda não sei o que fazer das partes removidas de cada um deles, onde estarão a salvo caso um deles queira recuperá-las?

    ..............