2.4.08

Dois poemas

O dragão do sertão

Pega o capacete dum ouro brilhante
lustrada, a armadura revela músculos
presa ao cinto,
espada com rubi cintilante
e sai do castelo,
montado à cavalo,
enfrentar o dragão

e seria tudo perfeito...
se tivesse:
capacete,
armadura,
músculo,
espada,
rubi,
castelo
e dragão

e não fosse, na verdade:
chapéu,
casaco,
fraqueza,
facão,
ferrugem,
casebre
e sertão

o sertão é um dragão
devora a dignidade de quem o enfrenta
homens e mulheres lutando uma guerra cujo fim já é definido


O soneto do imbecil

Lá vem ele, o pitbull humano
com seus dois metros de pura ignorância
sustentando um caráter leviano
movendo a engrenagem da intolerância

a única linguagem que quer
é a dos socos e pontapés
em casa, imbecil sem proveito
em bando, imbecil violento

a família o fez assim
ensinou a valorizar
trabalho, estudo, ser preconceituoso

estudo e trabalho não estava a fim
mas hoje pode afirmar
qu'é trabalhor, estudante e montruoso

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