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Sente-se e sirva-se, comente se quiser, destrua tudo. Mas por favor, apenas se você compreendeu, se de alguma forma valeu a pena, se fez a diferença.
"Homem primata, capitalismo selvagem, oho-o!"
“A vida não lhe dará presentes,
se você quer a vida roube-a.”
Sr. F e o selvagem mundo empresarial
O garoto estava sentado no sofá, olhava para o vazio, o controle remoto na mão e a televisão desligada. Foi essa a visão do Sr. F ao entrar na sala. Precisou chamar duas vezes para tirar o garoto do transe.
-O que? É você Sr. F.
-Sua mãe disse que você estaria aqui.
-Estou vendo à tv.
-Eu percebi. – E Sr. F olha para a televisão, o olhar do garoto o segue e ao perceber o aparelho desligado disfarça.
-Ah, é que eu já tinha desligado, agorinha pouco.
-Então você não foi aceito no emprego...
-É não me quiseram.
-... – Sr. F. queria que o garoto continuasse.
-Não entendo, eu sempre fui inteligente, o melhor aluno da escola.
-Você precisa entender que ninguém tem a obrigação de te contratar porque você é bonzinho e os professores falavam bem de você. O tempo de estudante e bajulador dos professores já passou.
-Eu não era bajulador!
-De qualquer forma eles gostavam de você e de certo faziam vista grossa aos seus erros.
-É, talvez... O que tem a ver?
-Aquele pessoal recebia do governo para te ensinar. Em um emprego, pagam para você produzir e qualquer erro seu serve de motivo pra ser descontado do salário o até pior, ser despedido. Como adulto você precisa agregar novas qualidades, pretendia impressionar o chefe dizendo qual a velocidade da luz?
-Se eu tivesse a chanc—
-Nada, você precisa mostrar serviço. Escuta, seria muito bom se fôssemos todos bons e desligados do dinheiro, mas não é assim, a vida não vai mais arredondar sua nota, se bobear, vai até tirá-la de você, então aprenda a conseguir as coisas sem esperar a ajuda dos outros.
-...
-Agora chega de papo, esse cheiro de carne assada vindo da cozinha me deixou com água na boca. Vamos lá.
Sr. F e o garoto foram almoçar, o garoto entendeu os conselhos do Sr. F. e se empenhou como nunca. Foi dispensado por várias tentativas seguintes de conseguir emprego. Nem todos vão conseguir, por mais que se esforcem.
História baseada em um causo que aconteceu com um amigo. Claro que eu dei uma enfeitada e dramatizada, mas afinal, é mais uma história do universo do Subúrbio, da cidade de São Jorge.
Para ler toda a história acesse aqui.
II
A continuação do texto Carmem: fragmentos de uma mente perturbada
Para ler toda a história acesse aqui.
I
Duas horas após o término da metamorfose, continuo a contemplar seu corpo. Livre dos grilhões do instinto. Seu olhar antes atrevido, agora é muito mais comportado, seus olhos eram bonitos, mas resisti e descartei-os assim mesmo, pro lixo, bem como o fora a minha infância, quando tinha apenas meus sete anos e nos mudamos para a cidade. Meu pai disse que o interior estava atrasando a família e que na cidade os tios tinham se estabelecido bem. E de certa forma, se comparados aos casebres do campo, os barracos na periferia não eram tão ruins... (todos os conceitos e concepções que tinha sobre humanos e a vida em sociedade, se provariam errados depois desta mudança. Que ingenuidade a minha pensar que todos os homens se relacionavam como na minha cidadezinha!).
Na última semana é que realizei que as mãos também inebriam e não deixam que a mente pense com clareza. Por isso tomei a liberdade de extrai-las, tão úteis, também tão sujas. Ninguém acreditou em mim: "seu tio trabalha o dia inteiro, nos ajuda muito e você inventa uma coisa horrível dessas!". Ele era da minha família! Ele deveria me proteger! Mas foi bom, não trouxe apenas seqüelas, trouxe um propósito de vida: curar. Hoje a fragilidade de criança já não tem espaço em minha mente, desde o fatídico dia, meu instinto fechou-se num casulo pra renascer mais poderoso do que nunca, rastejando como que uma larva, sendo abusada pela escória toda, mas depois, quando transformada, ninguém é páreo para a muçurana, a devoradora de cobras, poderosa, vai à forra com as outras cobras, agressoras de outrora, brinquedos hoje.
Melhorei bastante para uma segunda vez. Da primeira vez não tinha nem planejado como iniciar o processo, ele não parava de se mexer, nem de tentar escapar, improvisei com um vaso em sua cabeça e descobri como quatro litros podem ser muita coisa quando se trata de sangue pelo tapete. Quase entrei em pânico, usei o que tinha em casa para transformá-lo, facas, colheres, qualquer coisa que parecesse ter serventia. Hoje sou muito mais técnica, precisão quase cirúrgica, fabricando os instrumentos de que necessitasse. Ah! O êxtase de mais um trabalho completo. Sua medíocre condição humana não é mais problema, ele pode descansar agora, seu instinto sujo, não vai mais atrapalhar seus pensamentos. Eu gostava daquele tapete na sala, agora só me serve no quarto, onde o vermelho velho combina mais com o das paredes. Ainda não sei o que fazer das partes removidas de cada um deles, onde estarão a salvo caso um deles queira recuperá-las?
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